sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ninguém manda em mim

Há diversas atitudes entre as pessoas ao nosso redor que podem ser realmente irritantes. Entre elas, uma que escolhi faz tempo como a atitude campeã em chatice e inutilidade é a postura de “vítima do mundo”.

É um emprego que não deu certo, um namoro que acabou, relacionamento difícil com a mãe, grosseria do cliente, ou seja lá o que for, tudo vira motivo para mau humor ou má vontade, mas “a culpa não é minha”!

Isso passa pelas grandes decisões necessárias na vida, até pequenas tarefas diárias. São aquelas clássicas desculpas do tipo “o cachorro comeu o meu trabalho professora...” Há pessoas que passam a vida inteira se desculpando.

É possível ir ainda mais longe e colocar tudo na conta do inconsciente, de vidas passadas, traumas de infância... Talvez isso tudo só revele o medo ou incapacidade de tomar as rédeas da própria vida.

Assumir a postura de vítima muitas vezes é realmente cômodo, se eu sou a vítima preciso de proteção, preciso que alguém tome conta de mim e resolva todos os meus problemas. Diante disso muitos até se habituam às queixas constantes, relembrando antigos ou novos problemas, doenças, tristezas... Haja paciência!

Muitas coisas podem ter acontecido com você, mas a vida é agora, é para frente!

É extremamente libertador tomar a consciência de que quem determina como é a nossa vida, nosso humor, nosso ambiente, nosso bem estar, somos nós mesmos e ninguém mais. Afinal de contas, o único comportamento humano sobre o qual realmente temos controle, é o nosso!

É necessário então, como diz o Pe. Fábio de Melo (1), “se possuir”.

Não é conselho novo, é algo já dito pela clássica filosofia “Conhece-te a ti mesmo”, e exposto no maior dos mandamentos deixados por Jesus: “Ama o próximo como a você mesmo” (2).

Precisamos nos conhecer e nos amar o suficiente para não depender de outras pessoas ou situações para permanecermos em equilíbrio e felizes, mesmo que nem sempre alegres ou entusiasmados.

Depender de palavras, gestos ou reações de outras pessoas para que possamos nos sentir bem conosco mesmos é dar poder demais a indivíduos que sequer desejam tal poder!

Quem efetivamente se possui não se abate, como demonstra o poema Invictus, que ficou famoso por ser relembrado no filme de mesmo nome, como um texto usado por Nelson Mandela para manter-se firme, mesmo entre as maiores adversidades:

Invictus
“Do breu da noite que não se dissolve
A me envolver em nuvem negra,
A qualquer deus – se algum me ouve,
Agradeço por minha alma que não se verga.

Fustigado pelas garras do acaso,
Nunca lamentei, não esmoreceu minha fé.
Sob os golpes fortuitos do descaso,
Trago a cabeça em sangue, mas ainda de pé.

Além deste lugar de ira e ranger de dentes
Só se vê o horror de sombras silentes;
Mas a ameaça do Tempo, que nunca recua,
Não me amedronta, nem me acua.

Embora estreito o portão, sigo adiante,
Mesmo tendo ao lado o castigo e o desatino,
Da minha alma eu sou o comandante;
Eu sou o senhor do meu destino.” (3)

Raciocínio semelhante encontramos em uma música de uma de minhas bandas favoritas, Los Hermanos:

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado
Rei de mim. (4)

É necessário se possuir!
Há momentos em que precisamos gritar para nós mesmos: “Ninguém manda em mim”! “Aqui, a rainha sou eu!”

(2)Mateus 22,39
(3)  William Ernest Henley
(4)  De onde vem a calma. Marcelo Camelo

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