segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MÚSICA PARA O NATAL: George Harrison - Here Comes The Sun

"Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; e vós saireis e saltareis como bezerros da estrebaria". Ml 4:2 


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CRIMINOLOGIA - Meios Institucionais e Objetivos Culturais (ou: "não ouçam sertanejo aluninhos")




     Dentro do processo de deslegitimação da Ideologia da Defesa Social, é possível confrontar o Princípio do Bem e do Mal com a Teoria Estrutural Funcionalista e da Anomia.

     O princípio afirma que a sociedade seria perfeitamente dividida entre bem e mal, enquanto a teoria vem demonstrar que mesmo o bem tem o mal em sua estrutura e que o mal (criminalidade), cumpriria alguma função necessária à sociedade, sendo parte de sua estrutura.

     O desvio é produto da estrutura social, tanto quanto o comportamento adequado às normas. Merton transforma a teoria da anomia de Durkheim em teoria da criminalidade, fala da contradição entre estrutura social e cultura, esta propõe metas e comportamentos para alcançar tais metas. A estrutura social dá ou não acesso a estas metas. Esta desproporção está na origem dos crimes.

     Observa-se que algumas metas que indicariam o sucesso são sugeridas pela cultura à toda a sociedade, notadamente pelos meios de comunicação social. Sugere-se que o indivíduo bem sucedido seria aquele que já alcançou, por exemplo: conforto financeiro, beleza e bem estar físico, aperfeiçoamento intelectual e fama, status ou reconhecimento.

     Para atingir as referidas metas ou objetivos culturais existem os chamados meios institucionais, ou seja, as maneiras julgadas adequadas para se chegar até os objetivos. Assim, para enriquecer o meio institucional seria o trabalho, herança ou sorte; para o bem-estar físico e um ideal estético, o meio seria ter hábitos saudáveis, exercitar-se, alimentar-se bem, etc; para o progresso intelectual o meio é o estudo e para a fama o caminho seria o talento.
            
     Ocorre que nem todas as pessoas encontram-se à mesma distância de tais metas, e algum momento da vida percebem que, lançando mão dos meios institucionais talvez jamais atinjam as metas culturais. Cada indivíduo então responde de uma forma a esta percepção.

     Robert Merton propõe 5 formas de adequação à tal distância:

a)        Conformidade: possibilita a sociedade, aceita meios e fins. O indivíduo dedica-se aos meios institucionais para, por meio deles, atingir as metas culturais.

b)        Inovação: adere aos fins sem respeito aos meios. Comportamento criminoso, extratos sociais inferiores estão mais expostos. Condutas que configuram verdadeiros atalhos entre os meios institucionais e os fins culturais.

c)         Ritualismo: respeito formal aos meios, sem perseguir os fins. Basta o ritual, basta a aparência de perquirir os mesmos objetivos do restante da sociedade.

d)        Apatia/Evasão/Retração: nega fins e meios. Procura uma vida alternativa, retirando-se da sociedade e seus modelos.

e)    Rebelião: propõe novos fins e novos meios. Não apenas nega mas afirma outros. Deseja uma nova sociedade para si e para os demais.

MODO DE ADAPTAÇÃO
OBJETIVOS CULTURAIS
MEIOS INSTITUCIONAIS
I. Conformidade
+
+
II. Inovação
+
_
III. Ritualismo
_
+
IV. Evasão
_
_
V. Rebelião
+/_
+/_

     O raciocínio acima exposto pode conduzir a errônea conclusão de que aquele que opta pelo comportamento conformista seria ingênuo por acreditar que dedicando-se aos meios institucionais chegaria aos fins culturais. Certamente nem sempre aquele que faz tal opção será plenamente bem sucedido, mas quando o é, o sucesso é estável, concreto.
     Por outro lado, quem adota o comportamento inovador obtém sucesso transitório, efêmero, frágil.
     No comportamento inovador encaixamos o comportamento criminoso. Os que obtém o enriquecimento sem causa, oriundo do crime, precisarão muitas vezes continuar na carreira delitiva para ocultar os resultados de um primeiro crime, não lhes sendo possível gozar do sucesso com a mesma tranquilidade que faz o conformista.
     Tome-se também o exemplo daqueles que procuram a fama fácil ingressando em reality shows ou que são mero produto da indústria de uma época, tais como cantores de “arrocha” ou “sertanejo universitário” que, para se fazer conhecer, precisam indicar os próprios nomes nas letras das suas músicas, quando artistas realmente talentosos serão lembrados décadas após o final de suas carreiras ou seu falecimento (como são exemplos os que aparecem na figura acima).



terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Queres ser curado?"




“Queres ser curado?”
Foi a pergunta que Jesus fez ao paralítico às margens da piscina de Betesda. O doente primeiramente atribui sua dificuldade ao fato de nunca ter alguém que o colocasse na piscina para ser curado. Jesus então ordena: “Levanta-te, toma o teu leito, e anda”. E ele foi curado[1].

Há alguns dias andei enfrentando um pouco de deserto. A gente sabe que faz parte da vida uns momentos de dúvida, altos e baixos, decepções, faltas... Mas apesar de sabermos, há vezes em que não conseguimos assimilar e organizar os pensamentos com facilidade e fiquei um tanto paralisada.

Talvez o maior susto foi um dia que uma amiga comentou: “você já melhorou né? Tá com uma carinha melhor...”, e eu percebi que eu não queria ter melhorado. Eu queria continuar triste, eu queria continuar ruminando, eu queria, talvez, que continuassem se preocupando comigo para, quem sabe, alguém resolver o que estava me incomodando.

Só que ninguém resolve.

Eu tenho certeza de que conto com muitas pessoas que fariam de tudo para nunca me verem triste, mas há situações em que ninguém pode fazer nada, a não ser eu.

Até que chega o ponto em que você tem que encarar a pergunta: “Quer ser curado? Quer que isso passe? Ou vai continuar esperando que alguém te jogue na piscina?”

Até que chega o ponto em que você levanta, pega o leito e anda, porque não é culpa de ninguém se você ainda não fez isso.

Acho interessante o detalhe do paralítico levar o leito com ele. Ele não deixa o passado totalmente para trás, ele não esquece. Mas acontece que carregar o leito é bem diferente de passar o resto da vida deitado sobre ele.

Carregar o leito é entender que certas dificuldades nunca nos abandonarão, é admitir vazios que serão nossa companhia, ausências que não serão preenchidas, mas que mesmo assim é possível andar.

Há sim na vida acontecimentos e sentimentos absolutamente sem sentido. Fatos não têm sentido. Pessoas dão sentido aos fatos.

“É a maneira pela qual vivemos um acontecimento que o vai transformar num sepulcro ou numa porta”.[2]

Façamos as pazes com a vida e andemos.


[1] Jo 5, 1-18
[2] PACOT, Simone. A evangelização das profundezas. Aparecida: Santuário, 2001. p. 40.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

CRIMINOLOGIA E MÚSICA DO DIA: Músicas sobre o "Mal-Estar" na vida urbana

Aqui vão algumas músicas que tratam um pouco sobre a superficialidade dos laços na vida urbana, o que está diretamente relacionado as nossas reflexões sobre a Escola de Chicago.

Alguém lembra de mais músicas sobre este tema?

Aqui tem Pearl Jam, Radiohead (que poderia ter várias), Red Hot Chilli Peppers, Ira, Engenheiros do Hawai e Criolo...



Fake Plastic Trees Radiohead
A green plastic watering can
For a fake chinese rubber plant
In the fake plastic earth

That she bought from a rubber man
In a town full of rubber plans
To get rid of itself

It wears her out, it wears her out
It wears her out, it wears her out

She lives with a broken man
A cracked polystyrene man
Who just crumbles and burns

He used to do surgery
For girls in the eighties
But gravity always wins

And it wears him out, it wears him out
It wears him out, it wears him out

She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love

But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run

And it wears me out, it wears me out
It wears me out, it wears me out

And if I could be who you wanted
If I could be who you wanted
All the time, all the time 

Falsas árvores de plásticos
Um regador verde de plástico
Para uma falsa planta chinesa de borracha
Na Terra artificial de plástico

Que ela comprou de um homem de borracha
Em uma cidade cheia de planos de borracha
Para se livrar de si mesma

Isto a desgasta, isto a desgasta
Isto a desgasta, isto a desgasta

Ela mora com um homem falido
Um homem de poliestireno rachado
Que apenas se esfarela e queima

Ele costumava fazer cirurgias
Em garotas nos anos oitenta
Mas a gravidade sempre vence

E isto o desgasta, isto o desgasta
Isto o desgasta, isto o desgasta

Ela parece ser real
Ela tem sabor de real
Meu amor artificial de plástico

Mas não posso evitar o sentimento
Eu explodiria através do teto
se eu apenas me virasse e corresse

E Isto me desgasta, isto me desgasta
Isto me desgasta, isto me desgasta

Se eu pudesse ser quem você procura
Se eu pudesse ser quem você procura
o tempo todo, o tempo todo


http://www.vagalume.com.br/radiohead/fake-plastic-trees-traducao.html#ixzz25SuQpIVe





I Am Mine Pearl Jam
The selfish, they're all standing in line
Faithing and hoping to buy themselves time
Me, I figure as each breath goes by
I only own my mind

The North is to South what the clock is to time
There's east and there's west and there's everywhere life
I know I was born and I know that I'll die
The in between is mine
I am mine

And the feeling, it gets left behind
All the innocence lost at one time
Significant, between the lines
There's no need to hide...
We're safe tonight

The ocean is full 'cause everyone's crying
The full moon is looking for friends at high tide
The sorrow grows bigger when the sorrow's denied
I only know my mind
I am mine

And the meaning, it gets left behind
All the innocents lost at one time
Significant, behind the eyes
There's no need to hide...
We're safe tonight

And the feelings that get left behind
All the innocence broken with lies
Significant between the lines
We may need to hide

And the meanings that get left behind
All the innocents lost at one time
We're all diferent behind the eyes
There's no need to hide

(yeah) 

Eu pertenço a mim Pearl Jam
Os egoístas estão todos em fila
Acreditando e esperando comprar tempo
Eu imagino como cada suspiro passa
Eu apenas possuo minha mente

O norte é para o sul o que o relógio é para o tempo
Existe o leste e existe o oeste e existe vida em todo lugar
Eu sei que nasci e sei que vou morrer
O que existe no meio me pertence
Eu sou meu

E o sentimento, fica para trás
Toda a inocência perdida de uma vez
Importância entre as frases
Não existe motivo para se esconder
Nós estamos a salvo esta noite

O oceano está cheio porque todos estão chorando
A lua cheia está a procura de amigos na maré-alta
A tristeza fica maior quando a tristeza é negada
Eu apenas conheço minha mente
Eu pertenço a mim

E o significado, fica para trás
Todos os inocentes perdidos de uma vez
Significante atrás dos olhos
Não existe motivo para se esconder...
Nós estamos a salvo esta noite

E os sentimentos que ficam para trás
Toda a inocência quebrada por mentiras
Significância, entre as linhas
Nós podemos precisar nos esconder

E os sentimentos que ficam para trás
Os os inocentes perdidos de uma vez
Nós somos todos diferentes atrás dos olhos
Não existe motivo para se esconder


http://www.vagalume.com.br/pearl-jam/i-am-mine-traducao.html#ixzz25SZ3pOGD




Under The Bridge Red Hot Chili Peppers
Sometimes I feel like I don't have a partner
Sometimes I feel like my only friend
Is the city I live in, the city of angels
Lonely as I am, together we cry

I drive on her streets 'cause she's my companion
I walk through her hills 'cause she knows who I am
She sees my good deeds and she kisses me windy
I never worry, now that is a lie.

Well, I don't ever wanna feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way
I don't ever wanna feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way, yeah, yeah, yeah

It's hard to believe that there's nobody out there
It's hard to believe that I'm all alone
At least I have her love, the city she loves me
Lonely as I am, together we cry

Well, I don't ever wanna feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way
Well, I don't ever wanna feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way, yeah, yeah, yeah
oh no, no, no, yeah, yeah
love me, I say, yeah yeah

(under the bridge downtown)
(is where I drew some blood)
is where I drew some blood

(under the bridge downtown)
(I could not get enough)
I could not get enough

(under the bridge downtown)
(forgot about my love)
forgot about my love

(under the bridge downtown)
(I gave my life away)
I gave my life away yeah, yeah yeah

(away)
no, no, no, yeah, yeah

(away)
no, no, no say, yeah, yeah

(away)
But I'll stay 

Debaixo da Ponte Red Hot Chili Peppers
Às vezes eu sinto que não tenho um companheiro
Às vezes eu sinto como se fosse meu único amigo
É a cidade em que vivo, a cidade dos anjos
Sozinho como eu estou, juntos nós choramos

Eu dirijo em suas ruas pois ela é minha companhia
Eu ando pelas suas colinas pois ela sabe quem eu sou
Ela vê meus feitos bons e ela me beija com o vento
Eu nunca me preocupo agora que é uma mentira

Bem, eu não quero nunca me sentir como me senti naquele dia
Me leve ao lugar que amo me leve embora
Bem, eu não quero nunca me sentir como me senti naquele dia
Me leve ao lugar que amo me leve embora
É difícil acreditar Que não há ninguém lá fora
É difícil acreditar Que estou totalmente só
Pelo menos tenho seu amor, A cidade me ama
Sozinho como estou Juntos nós choramos

Eu não quero me sentir como me senti naquele dia
Me leve ao lugar que amo me leve embora
Eu não quero me sentir como me senti naquele dia
Me leve ao lugar que amo me leve embora yeah, yeah, yeahoh no, no, no, yeah, yeah
Me ame, eu disse, yeah yeah

(Debaixo da ponte, centro da cidade)
(É onde eu derramei um pouco de sangue)
É onde eu derramei um pouco de sangue

(Debaixo da ponte, centro da cidade)
(Eu não poderia ter o bastante)
Eu não poderia ter o bastante

(Debaixo da ponte, centro da cidade)
(Esqueci do meu amor)
Esqueci do meu amor

(Debaixo da ponte, centro da cidade)
(Eu entreguei minha vida)
Eu entreguei minha vida, yeah, yeah, yeah

(Entreguei)
Não, não, não, yeah, yeah

(Entreguei)
Não, não, não disse, yeah, yeah

(Entreguei)
Mas eu vou ficar


http://www.vagalume.com.br/red-hot-chili-peppers/under-the-bridge-traducao.html#ixzz25SPnQ8iW







Não Existe Amor Em Sp

Criolo

Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro duas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus





Envelheço na Cidade Ira!
Mais um ano que se passa
Mais um ano sem você
Já não tenho a mesma idade
Envelheço na cidade

Essa vida é jogo rápido
Para mim ou pra você
Mais um ano que se passa
Eu não sei o que fazer

Juventude se abraça
Se une pra esquecer
Um feliz aniversário
Para mim ou pra você

Feliz aniversário
Envelheço na cidade
Feliz aniversário
Envelheço na cidade

Meus amigos, minha rua
As garotas da minha rua
Não sinto, não os tenho
Mais um ano sem você

As garotas desfilando
Os rapazes a beber
Já não tenho a mesma idade
Não pertenço a ninguém

Juventude se abraça
Se une pra esquecer
Um feliz aniversário
Para mim ou pra você

Feliz aniversário
Envelheço na cidade
Feliz aniversário
Envelheço na cidade


http://www.vagalume.com.br/ira/envelheco-na-cidade.html#ixzz25STQcD71

segunda-feira, 28 de maio de 2012

CIÊNCIA POLÍTICA e CRIMINOLOGIA - Para pensar mais uma vez no "Tempos Modernos"

"A economia política não se ocupa dele no seu tempo livre, como homem, mas deixa este aspecto para o direito penal, os médicos, a religião, as tabelas estatísticas, a política e o funcionário de manicômio. (...) ... não conhece o trabalhador desocupado, o homem que trabalha, à medida que ele se encontra fora da relação de trabalho. O trapaceiro, o ladrão, o mendigo, o desempregado, o esfomeado, o miserável e o delinqüente, são figuras de homem que não existem para a economia política, mas só para outros olhos, para os do médico, do juiz, do coveiro, do burocrata, etc."

Marx, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos.

CIÊNCIA POLÍTICA E CRIMINOLOGIA - Operário em Construção - Vinicius de Moraes

Operário, Cândido Portinari


Segue abaixo o lindo e triste poema de Vinicius de Moraes, perfeito para refletirmos sobre a alienação do trabalhador que não se vê realizado no próprio trabalho e muitas vezes só deixa de ser "invisível" quando encontra o tratamento penal do Estado, que antes não o protegeu.


Era ele que erguia casas/Onde antes só havia chão./Como um pássaro sem asas/Ele subia com as casas/Que lhe brotavam da mão./Mas tudo desconhecia/De sua grande missão:/Não sabia por exemplo/Que a casa de um homem é um templo/Um templo sem religião/Como tampouco sabia/Que a casa que ele fazia/Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão.

De fato, como podia/Um operário em construção/Compreender por que um tijolo/Valia mais do que um pão?/Tijolos ele empilhava/Com pá, cimento e esquadria/Quanto ao pão, ele o comia.../Mas fosse comer tijolo!/E assim o operário ia/Com suor e com cimento/Erguendo um casa aqui/Adiante um apartamento/Além uma igreja, à frente/Um quartel e uma prisão:/Prisão de que sofreria/Não fosse, eventualmente/Um operário em construção.

Mas ele desconhecia/Esse fato extraordinário:/Que o operário faz a coisa/E a coisa faz o operário./De forma que, certo dia/À mesa, ao cortar o pão/O operário foi tomado/De uma súbita emoção/Ao constatar assombrado/Que tudo naquela mesa/- Garrafa, prato, facão –/Era ele quem os fazia/Ele, um humilde operário,/Um operário em construção./Olhou em torno: gamela/Banco, enxerga, caldeirão/Vidro, parede, janela/Casa, cidade, nação!/Tudo, tudo o que existia/Era ele quem o fazia/Ele, um humilde operário/Um operário que sabia/Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento/Não sabereis nunca o quanto/Aquele humilde operário/Soube naquele momento!/Naquela casa vazia/Que ele mesmo levantara/Um mundo novo nascia/De que sequer suspeitava./O operário emocionado/Olhou sua própria mão/Sua rude mão de operário/De operário em construção/E olhando bem para ela/Teve um segundo a impressão/De que não havia no mundo/Coisa que fosse mais bela./Foi dentro da compreensão/Desse instante solitário/Que, tal sua construção/Cresceu também o operário/Cresceu em alto e profundo/Em largo e no coração/E como tudo que cresce/Ele não cresceu em vão./Pois além do que sabia/- Exercer a profissão –/O operário adquiriu/Uma nova dimensão:/A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu/Que a todos admirava:/O que o operário dizia/Outro operário escutava./E foi assim que o operário/Do edifício em construção/Que sempre dizia sim/Começou a dizer não./E aprendeu a notar coisas/A que não dava atenção:/Notou que sua marmita/Era o prato do patrão/Que sua cerveja preta/Era o uísque do patrão/Que seu macacão de zuarte/Era o terno do patrão/ Que seus dois pés andarilhos/Eram as rodas do patrão/Que a dureza do seu dia/Era a noite do patrão/Que sua imensa fadiga/Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!/E o operário fez-se forte/Na sua resolução./Como era de se esperar/As bocas da delação/Começaram a dizer coisas/Aos ouvidos do patrão./Mas o patrão não queria/Nenhuma preocupação./-- Convençam-no do contrário –/Disse ele sobre o operário/E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário/Ao sair da construção/Viu-se súbito cercado/Dos homens da delação/E sofreu, por destinado/Sua primeira agressão./Teve seu rosto cuspido/Teve seu braço quebrado/Mas quando foi perguntado/O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário/Sua primeira agressão/Muitas outras se seguiram/Muitas outras seguirão./Porém, por imprescindível/ Ao edifício em construção/Seu trabalho prosseguia/E todo o seu sofrimento/Misturava-se ao cimento/Da construção que crescia.

Sentindo que a violência/Não dobraria o operário/Um dia tentou o patrão/Dobrá-lo de modo vário./De sorte que o foi levando/Ao alto da construção/E num momento de tempo/Mostrou-lhe toda a região/E apontando-a ao operário/Fez-lhe esta declaração:/- Dar-te-ei todo esse poder/E a sua satisfação/Porque a mim me foi entregue/E dou-o a quem bem quiser./Dou-te tempo de lazer/Dou-te tempo de mulher./Portanto, tudo o que vês/Será teu se me adorares/E, ainda mais, se abandonares/O que te faz dizer não./Disse, e fitou o operário/Que olhava e que refletia/Mas o que via o operário/O patrão nunca veria./O operário via casas/E dentro das estruturas/Via coisas, objetos/Produtos, manufaturas./Via tudo o que fazia/O lucro do seu patrão/E em cada coisa que via/Misteriosamente havia/A marca de sua mão./E o operário disse: Não!

- Loucura! – gritou o patrão/Não vês o que te dou eu?/- Mentira! – disse o operário/Não podes dar-me o que é meu./E um grande silêncio fez-se/Dentro do seu coração/Um silêncio de martírios/Um silêncio de prisão/Um silêncio povoado/De pedidos de perdão/Um silêncio apavorado/Como o medo em solidão/Um silêncio de torturas/E gritos de maldição/Um silêncio de fraturas/A se arrastarem no chão./E o operário ouviu a voz/De todos os seus irmãos/Os seus irmãos que morreram/Por outros que viverão./Um esperança sincera/Cresceu no seu coração/E dentro da tarde mansa/Agigantou-se a razão/De um homem pobre e esquecido/Razão porém que fizera/Em operário construído/O operário em construção.”

quarta-feira, 23 de maio de 2012

DOZALUNO - Criminologia, objetivos culturais, modelos de adaptação individual...

Grande contribuição da Jocieli, que inclusive até já sugeriu a pergunta para a prova:

"Ó prof. Patricia uma questão para prova: "O crime é fruto do descompasso entre os meios institucionais e os fins culturais". Relacione o quadrinho com a afirmação de Merton."

Vai que resolvo aceitar a idéia dela?...


* "Dozaluno" é o espaço aqui no blog para compartilhar as contribuições enviadas por meus alunos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

LEITURA DA SEMANA: Identidade - Zygmunt Bauman

Inaugurando um espaço novo aqui no blog e também para me impor a obrigatoriedade de manter uma carga de leitura mais constante, passarei a contar e eventualmente comentar, aquilo que eu estiver lendo no momento.

Na verdade nunca estou lendo um livro só... Se meu único criado não fosse mudo, ele diria: "Ai minhas costas!"

Entre todas as leituras por que pularei de semana em semana, escolherei alguma ou algumas e seus trechos, para sugerir aqui.

No momento, estou adorando um livrinho do Zygmunt Baumann, chamado "Identidade" e todas as suas reflexões sobre ainda termos a possibilidade do sentimento de pertença nos tempos da modernidade líquida.



"Lugares em que o sentimento de pertencimento era tradicionalmente investido (trabalho, família, vizinhança) são indisponíveis ou indignos de confiança, de modo que é improvável que façam calar sede por convívio ou aplaquem o medo da solidão e do abandono. Daí a crescente demanda pelo que poderíamos chamar de 'comunidades guarda roupa' [...] As comunidades guarda roupa são reunidas enquanto dura o espetáculo e prontamente desfeitas quando os espectadores apanham os seus casacos nos cabides. [...] Quando a qualidade o deixa na mão ou não está disponível, você tende a procurar a redenção na quantidade".

Entre minhas manias mais antigas está sempre ler a última frase do livro antes de começar a ler. A última do Identidade é "Tente, o máximo possível, evitar este problema." Não é pra ficar louco para terminar de uma vez?


As provocações me fizeram lembrar de uma música do álbum mais novo do Teatro Mágico: "Eu não sei na verdade quem eu sou".

Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou O Teatro Mágico
Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?
criando conceito pra tudo que restou
Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso
E o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Descobrir
Da onde veio a vida
por onde entrei
Deve haver uma saída
mas tudo fica sustentado
Pela fé
Na verdade ninguém
Sabe o que é

Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola! É onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração

Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
E sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei na verdade quem eu sou

Perceber que a cada minuto
tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
tem gente rezando no escuro, tem gente sentindo ausência

Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que guardo dentro do meu travesseiro
http://www.vagalume.com.br/o-teatro-magico/eu-nao-sei-na-verdade-quem-eu-sou.html#ixzz1uy9NVxtK

domingo, 13 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

CIÊNCIA POLÍTICA - Admirável Mundo Novo



Segue o link para baixar o Admirável Mundo Novo.

http://www.4shared.com/office/I7P_QoMQ/Aldous_Huxley_-_Admirvel_Mundo.html


sábado, 28 de abril de 2012

"Chove lá fora..."




Os dias de chuva não são os meus preferidos.

Mas não posso negar que também eles têm a sua beleza.

O cinza de fora ajuda a pensar nos cinzas de dentro, afinal, a vida não é feita só de colorido e de dias ensolarados.



Quando a vida nos traz mau tempo, deveríamos nos comportar de forma semelhante ao que fazemos nos dias de chuva.



Não sair de casa desnecessariamente. A tempestade é um excelente motivo para passar um tempo sozinho, em silêncio, reorganizando pensamentos.



Se deixar teu cantinho for inevitável, vá com calma. O trânsito, na chuva, fica bem mais difícil, exige atenção e paciência. A vida, nas tormentas, também é assim. É difícil encontrar vaga para estacionar, os vidros embaçam, tudo fica mais lento. Pressa, num momento difícil, vai só piorar as coisas. Se você sair correndo é possível que molhe muitos pedestres pelo caminho. Só quem já foi um pedestre desavisado ao lado de uma poça em um dia de chuva vai entender o que estou dizendo. Cuidado com quem você atinge com a pressa para sair do aguaceiro.



Mantenha as luzes acesas. Não importa se ainda é dia, você vai precisar de mais luzes para se virar em tempos escuros. Lembrar quem você é e quem você quer ser, será o melhor farol. Ouvir bons conselhos funcionará como “olhos de gato” ao longo do caminho.



Caso você realmente se encharque na chuva, isso não é tão grave.
O certo, tanto em relação às chuvas, quanto aos momentos difíceis, é que, da mesma forma que é impossível uma vida inteira sem eles, eles passam.



A chuva pode ser uma grande oportunidade de exibir por aí o teu guarda chuva mais colorido e mostrar que quem decide as cores da tua vida, é você.



E, a seguir, no melhor estilo “qualéamúsica”, se a palavra é chuva, aí vai a melhor música:

Raindrops Keep Falling on My Head Burt Bacharach
Raindrops falling on my head
And just like the guy whose feet are too big for his bed
Nothin' seems to fit
Those raindrops are falling on my head, they keep falling

So I just did me some talkin' to the sun
And I said I didn't like the way he' got things done
Sleepin' on the job
Those raindrops are falling on my head, they keep falling

But there's one thing I know
The blues they send to meet me won't defeat me
It won't be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep falling on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Crying's not for me
Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothing's worrying me.

It won´t be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep falling on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Crying's not for me
Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothing's worrying me.


http://www.vagalume.com.br/burt-bacharach/raindrops-keep-falling-on-my-head.html#ixzz1tNDMKQ6v


terça-feira, 24 de abril de 2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012

DOZALUNO - De quem é o Poder?

Contribuição da Marina Schlegel


* "Dozaluno" é o espaço no blog, aberto às contribuições interessantes enviadas por meus alunos.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Eros e Psique

Apenas como curiosidade (ou seja: não é assunto de prova), aí vai a história que mencionei na aula de hoje.





Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.
Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia sozinha. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos. Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Notou que lá deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.
Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de ali encontraria finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma voz maravilhosa a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo. A esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, já havia chegado o dia e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.
Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Psique sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs. Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal.
Ao receber novamente suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.
A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.
Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."
Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.
Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece."
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- "Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais."
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.
Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).