terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Queres ser curado?"




“Queres ser curado?”
Foi a pergunta que Jesus fez ao paralítico às margens da piscina de Betesda. O doente primeiramente atribui sua dificuldade ao fato de nunca ter alguém que o colocasse na piscina para ser curado. Jesus então ordena: “Levanta-te, toma o teu leito, e anda”. E ele foi curado[1].

Há alguns dias andei enfrentando um pouco de deserto. A gente sabe que faz parte da vida uns momentos de dúvida, altos e baixos, decepções, faltas... Mas apesar de sabermos, há vezes em que não conseguimos assimilar e organizar os pensamentos com facilidade e fiquei um tanto paralisada.

Talvez o maior susto foi um dia que uma amiga comentou: “você já melhorou né? Tá com uma carinha melhor...”, e eu percebi que eu não queria ter melhorado. Eu queria continuar triste, eu queria continuar ruminando, eu queria, talvez, que continuassem se preocupando comigo para, quem sabe, alguém resolver o que estava me incomodando.

Só que ninguém resolve.

Eu tenho certeza de que conto com muitas pessoas que fariam de tudo para nunca me verem triste, mas há situações em que ninguém pode fazer nada, a não ser eu.

Até que chega o ponto em que você tem que encarar a pergunta: “Quer ser curado? Quer que isso passe? Ou vai continuar esperando que alguém te jogue na piscina?”

Até que chega o ponto em que você levanta, pega o leito e anda, porque não é culpa de ninguém se você ainda não fez isso.

Acho interessante o detalhe do paralítico levar o leito com ele. Ele não deixa o passado totalmente para trás, ele não esquece. Mas acontece que carregar o leito é bem diferente de passar o resto da vida deitado sobre ele.

Carregar o leito é entender que certas dificuldades nunca nos abandonarão, é admitir vazios que serão nossa companhia, ausências que não serão preenchidas, mas que mesmo assim é possível andar.

Há sim na vida acontecimentos e sentimentos absolutamente sem sentido. Fatos não têm sentido. Pessoas dão sentido aos fatos.

“É a maneira pela qual vivemos um acontecimento que o vai transformar num sepulcro ou numa porta”.[2]

Façamos as pazes com a vida e andemos.


[1] Jo 5, 1-18
[2] PACOT, Simone. A evangelização das profundezas. Aparecida: Santuário, 2001. p. 40.

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